“A natureza está secando”: quilombo no Marajó vive impactos do arrozal e clima de violência

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Maré Boiúna - ANTONIO JURACI SIQUEIRA


MARÉ BOIÚNA

Contou-me um velho vaqueiro
que na Ponta do Sossego,
no município de Soure,
morava uma cobra-grande
como nunca antes se viu
tão perversa e violenta,
terror daquele lugar.

Essa serpente tinhosa
em sua sanha voraz,
derrubava ribanceiras,
afundava embarcação
devorando os passageiros
e pondo desassossego
em toda população.

Até que um dia um pajé,
-contava, o velho caboclo,
com brilho grave no olhar-
a peso de reza forte
a prendeu dentro do rio
com três fios de cabelo
de três virgens cunhatãs,

Mas o tempo - ratazana
voraz - da bicha apiedou-se
e com dentes afiados
foi roendo, foi roendo
os três fios de cabelo
até que dois se romperam
e tão somente um restou.

E me falava o velhinho
- pavor grelado nos olhos! -
que depois do último fio
de cabelo arrebentar,
a boiúna, enlouquecida,
boiará das profundezas
e a cidade afundará!...

*****
Do livro Marés - poemas de argila e sol
***
Foto:Bolsa confeccionada em lona crua, pintada à mão "A lenda da Cobra Grande", com aplicações de sementes regionais e cascas de coco.

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