“A natureza está secando”: quilombo no Marajó vive impactos do arrozal e clima de violência

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sábado, 10 de março de 2012

CABOCL@RTES 24

Óleo s/tela 30 x 50 


*
EU, O BOTO


Eu venho de um mundo
que tu não conheces:
do onde, do quando,
do nunca, talvez ...

Eu venho de um rio
perdido em teus sonhos,
num rio insondável
que corre em silêncio
entre o ser e o não ser.

Eu venho de um tempo
que os homens não medem:
nenhum calendário
registra meus dias.

Sou filho das ondas
que gemem na praia,
sou feito sombra,
de luz, de luar
e trago em meu rosto
mandinga e mistério,
e guardo em meus olhos
funduras do rio.

Cuidado, cabocla !
Cuidado comigo
que sou sempre tudo
o que anseias que eu seja:
teus ais, teus segredos,
tua febre, teu cio ...

Se em noite de lua
sentires insônias
e a fome de sexo
queimar tuas entranhas,
a sede de beijos
tua boca secar
e em brasa o teu corpo
meu corpo exigir,
contigo estarei
na rede do encanto
cativo nas malhas
da teia do amor.

E quando teus olhos
fitarem meus olhos,
e quando meus lábios
teus lábios tocarem,
e quando meus braços
laçarem teu corpo,
e quando meu ser
em teu ser penetrar,
só então saberás
quem sou e a que vim.

E assim que a semente
do amor, do desejo,
vingar no teu ventre
gerando outro ser,
não mais estarei
contigo, somente
a minha lembrança
permanecerá
boiando nas águas
barrentas e confusas,
da tua memória
cansada, febril ...
- Foi sonho? - Foi fato?
Ninguém saberá !...

*****
Autor: meu poeta marajoara ANTONIO JURACI SIQUEIRA
*



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